quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Caso Oscar Roberto Godói - uma reflexão


O ex-árbitro de futebol e atual comentarista Oscar Roberto Godói foi baleado na noite de quarta-feira (16 de fevereiro), durante uma tentativa de assalto na região de Perdizes, em São Paulo. As imagens das câmeras de segurança da vizinhança mostram que houve uma luta corporal e Godói sofreu quatro disparos, saiu baleado, sendo que dois dos projéteis pegaram de raspão, um atingiu o pescoço e o outro furou o pulmão. Ele passou por uma cirurgia e, neste momento, encontra-se na UTI do Hospital das Clínicas, em estado grave.

Vamos refletir sobre o fato ocorrido. Do ponto de vista antropológico, quando um marginal decide realizar um assalto, nesse instante o controle de sua mente passa a ser comandada pelo sistema límbico, mais especificamente, pela amígdala (não é o mesmo órgão da garganta). Na prática, isto significa que o assaltante fica, como se tivesse um piloto-automático pronto para tomar a decisão de atirar contra a outra pessoa na mínima percepção de reação.

Num momento desses, aumentam os batimentos cardíacos e a pressão do sangue do assaltante (a não ser que sofra de alexitimia - incapacidade de manifestar emoção e/ou outras patologias semelhantes). Os músculos grandes preparam-se para uma instantânea ação. O estado de ansiedade do assaltante é muito intenso. O corpo fica condicionado a lutar (e até matar). Pode tremer, os músculos faciais travam, porém há uma determinação para tirar a vida do assaltado.

Uma situação de descontrole emocional como essa, o melhor que o outro pode fazer, é manter o máximo de equilíbrio, calma, não reagir, e deixar claro, imediatamente, que entregará tudo. Qualquer reação diferente, a possibilidade de dar errado é muito grande. Mesmo para aquelas pessoas, que tenham treinamento de defesa.

Vamos torcer e pedir a Deus que Godói consiga sair dessa. Quanto a todos nós, que sirva de lição. Jamais deveremos reagir num instante de intensa ansiedade. O medo pode ser nosso aliado, no sentido de que nos informa de que existe a possibilidade de que pode ser melhor não reagir.

Na atual realidade, de constantes casos semelhantes a esse, precisamos nos preparar mentalmente. Sempre achamos, que pode acontecer com os outros e nunca acontecerá conosco. Mas, estamos todos sujeitos a isso. Fruto de uma sequência histórica de falhas na educação (escolar e familiar) – educação inclusive para a vida coletiva, com diversos outros fatores sociais que não são tratados como deveriam ser.

Quem sabe um dia, nossos governantes decidam fazer o que precisa ser feito, de modo integrado, estrategicamente planejado, focado e sequenciado – de governo a governo. As futuras gerações agradeceriam. Não significa que iria eliminar todos os casos, mas que reduziria e muito o número de vezes, que fatos como esse acontecem.

EDINALDO MARQUES
Professor, Consultor e Palestrante
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