terça-feira, 23 de novembro de 2010

Perigos para motoristas


Buracos de diversos tamanhos aparecem com frequência nas estradas federais, estaduais e municipais de todo o país. Os trabalhos de manutenção não têm a velocidade e a eficácia necessárias. Falta um sistema de gerenciamento, que permita prever e executar as obras de conservação, a fim de garantir a funcionalidade das rodovias – conforto, segurança e economia de operação.

O número de acidentes, que já é elevado, tende a aumentar com a proximidade das festas de final de ano e das férias de janeiro. Os indicadores de mortes em rodovias no Brasil são dez vezes maiores do que os registrados nos Estados Unidos.

Ano a ano milhares de pessoas são vítimas de problemas nas estradas. São pneus cortados em face de irregularidades nas superfícies dos pavimentos, suspensões danificadas, excessivo número de quebra-molas – alguns com sinalização deficiente, fiscalização da polícia rodoviária insuficiente devido a falta de pessoal, ausência de sinalização específica para caminhões – os dispositivos existentes são para os veículos leves. Além disso, declives e aclives acentuados, traçados antigos mal planejados e cheios de curvas fechadas.

A maioria dos acidentes tem falha humana, mas há uma parcela de contribuição das deficiências estruturais e de sinalização existentes nas rodovias. Os gestores responsáveis nunca são citados e nem punidos. São quase sempre os motoristas acusados de imprudência ou excessiva carga de trabalho no volante.

A causa de falhas estruturais nas estradas não é a falta de recursos orçamentários e financeiros, mas a ineficácia. Uma obra rodoviária é projetada e construída para um período de vida útil. A depender do crescimento do volume de tráfego precisa passar por melhorias, duplicações e serviços constantes de manutenção. Após inauguração e entregue ao tráfego, necessita de cuidados permanentes, avaliações periódicas, de medidas preventivas e corretivas, que devem ser preferencialmente realizadas no verão.

Infelizmente, o poder público não faz o que precisa ser feito. Executa obras que são entregues à população, mas se esquece de efetuar uma manutenção correta. Despreza um elevado patrimônio, que fica enterrado nessas obras e entregue ao tempo. Bilhões de reais que deveriam merecer a atenção dos governos. Isso sem contar com as vítimas fatais e os que ficam meses em recuperação nos hospitais públicos.

Precisamos mudar o quadro atual. É inadmissível, que em pleno século XXI, isso se repita de governo a governo, mesmo dispondo a engenharia de soluções técnicas eficientes e econômicas para serem aplicadas.

A CIDE – Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico, criada no final do segundo governo FHC, para tentar substituir o extinto Fundo Rodoviário Nacional (1986), apesar de já ter arrecadado cerca de 70 bilhões de reais, apenas um terço foi até hoje aplicado.

Se o problema fosse falta de recursos financeiros, até poderíamos aceitar. Só que não é o caso. Recursos existem. O que não existe é a visão clara da necessidade de priorizar o problema.

Vamos continuar sendo o país dos buracos, da falta de eficácia e do desperdício de dinheiro?

EDINALDO MARQUES
Engenheiro Civil e Professor da UFAL
www.twitter.com/edinaldomarques

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